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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Florestal e urbano

Quando o novo Código Florestal começar a valer, os proprietários rurais não terão mais como escapar da obrigação de demarcar as reservas legais dentro de suas propriedades. Todos definirão o percentual de terra com mata nativa a preservar ou recuperar; ou pagarão multa etc. Essa questão e suas vertentes já foram bastante debatidas.
Parece-me, no entanto, que grande parte dos defensores do meio ambiente ainda não se deu conta de um detalhe. Não basta controlar legalmente desmatamentos, nem a produção ou a função dos cinco milhões de propriedades rurais (84,4% de agricultura familiar) para manter a biodiversidade. O equilíbrio ecológico corre perigo também nas áreas urbanas.
Somos quase 200 milhões de predadores racionais neste país imenso. E bem mais de oitenta por cento vivem em cidades e periferia. Dá o que pensar... Até para reconhecer o avanço no texto do Código Florestal (aprovado semana passada, pelo Senado) instituindo o Regime de Proteção das Áreas Verdes Urbanas. Finalmente!
O crescimento das cidades e seus novos empreendimentos imobiliários vão ter que incluir áreas verdes em seus projetos, numa proporção equivalente a 20 metros quadrados por habitante. Para tanto e entre outras coisas, o regime de proteção sugere que os municípios tenham prioridade na compra de remanescentes florestais.
Além disso, os conselhos municipais do Meio Ambiente passarão a definir as faixas mínimas de mata ciliar em rios que cortam as cidades. Para quê? Para evitar inundações trágicas. O novo código determina a proteção das florestas e considera, obviamente, a vida humana na biodiversidade.
Grandes cidades nascem nas margens de rios, em beirada de lagoas ou na costa de mares; propícias a portos, vias de circulação de gente e transporte de mercadorias. Ao sabor das cheias e vazantes de águas doces, salobras ou salgadas; com fauna e flora próprias.
Hoje, um volume significativo dessas águas são vítimas de esgotos domésticos e despejos tóxicos industriais.
Se florestas devastadas são recuperáveis em áreas rurais, por que não regenerar ambientes degradados em áreas urbanas? Afinal, a alta densidade demográfica em cidades ajuda a preservar parques nacionais e outras unidades de conservação.
É hora de pensar no destino urbano com inteligência, criatividade. E mais educação. Um bom exemplo? Dignificar a vida nas favelas incluindo-as ao cotidiano do asfalto. Uma população integrada não depreda, polui menos e desperdiça pouco. Exige saneamento correto.

Enviado ao Blog do Noblat
Ateneia Feijó é jornalista